sábado, 3 de novembro de 2007

O Medo


Em verdade temos medo.

Nascemos escuro.

As existências são poucas:

Carteiro, ditador, soldado.

Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.

Cheiramos flores de medo.

Vestimos panos de medo.

De medo, vermelhos rios

vadeamos.

Somos apenas uns homens

e a natureza traiu-nos.

Há as árvores, as fábricas,

Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,

este célebre sentimento,

e o amor faltou: chovia,

ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo...

Nevava.

O medo, com sua capa,

nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,

meu companheiro moreno,

De nós, de vós: e de tudo.

Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses,

Nosso caminho: traçado...

(Carlos Drummond de Andrade)

2 comentários:

Anônimo disse...

Fabiana
Gostei muito de seu blog
Saudações
Edu

Blog do Chico disse...

Medo. Nesta foto nos transmites a sensação de vertigem...mais uma vez transformas o sem sentido em imagem cheia de significado...foto-crônica-poesia...tu és uma fotógrafa maravilhosa